7.9.12

Meu livro; Capitulo 2 parte 1

2
Bzz, bzz
Ajeitei-me num pulo contra os cantos gelados do plástico da banheira. A água já não estava mais morna como antes. Por quanto tempo eu estava ali deitada? O celular vibrava na bancada da pia, e me levantei respingando o piso ao redor da banheira. Estiquei o braço para alcançar o celular, que no mesmo momento desistiu de vibrar. Era Sara. Retornei a ligação na esperança dela não ter se zangado.
Eu estava tomando banho, não ouvi” me expliquei
Tomando banho?” disse ela gritando “Você tem noção do horário? Oh, muito típico vindo de você, Mariah. Em vinte minutos eu estou passando na sua casa!”
Abri o pequeno ralo da banheira e me sequei o mais rápido que pude. Meu vestido já estava em cima da cama, só faltava arrumar o cabelo e me enfeitar um pouquinho, afinal eu merecia. Deslizei num passe de mágica o vestido cinza, tomara-que-caia e corri para frente do espelho. Ele ficou perfeito, como se tivesse sido feito especialmente para mim. E olha que eu pexinxei na loja por um bom tempo.
Calcei um salto preto herdado da minha mãe, – tinha uma sorte e tanto por nós duas calçarmos o mesmo tamanho – já que ela tinha um armário cheio deles, não iria fazer falta. Corri cambaleando para a frente do espelho e passei um pouco do pó e do rímel da coleção de maquiagens caríssimas que ela tinha. Outra coisa que ela não daria falta.
Com certeza, bati o récorde em velocidade. Isso teria levado duas horas ou mais, se fosse Sara que tivesse se atrasado.
Bzz, bzz
Sim, sim. Acalme-se, eu já estou pronta – pensei.
Delizei o botão na tela do meu iPhone e não reconhecia o número que apareceu nela. Não era o da Sara, nem o da mamãe. Apoiei o celular no ombro esquerdo, enquanto escrevia em um pedaço tortamente rasgado, um bilhete avisando que tinha saído.
Alô?”
Sara Eaton?” falou a voz rouca séria do outro lado da linha. Era uma voz masculina, mas não consegui distinguir de quem era.
Sim... sou eu.”
Sou Ben Stanley, médico do Hospital de Detroit. Você teria, por acaso, alguma relação parentesca com uma mulher atendida pelo nome de Emma Eaton?” hexitei ao responder, e por longos segundos, a conversa ficou silenciosa e tensa.
Parei de escrever o bilhete, que já estava na metade, e olhei profundamente para o nada.
Ela é a minha mãe,” disse com a voz e mãos trêmulas “por quê? O que houve com ela?” estava quase gritando com o médico, quando lembrei de manter a calma. Ainda não sabia sobre o que se tratava, então respirei fundo e me sentei na cama da mamãe.
O médico demorou a responder. A ligação estava falhando, mas não, não podia cair logo agora. Vamos, fale alguma coisa.
Oh, eu sinto muito. O carro em que sua mãe dirigia, foi atingido por um caminhão em alta velocidade.” disse ele num tom um pouco mais calmo, talvez para passar uma sensação de conforto para mim. Como eu queria que ele soubesse que aquilo não estava funcionando. “Eu suponho que as crianças atendidas pelos nomes: Drake, Jared e Carlie eram seus irmãos. Eles, infelizmente não sobreviveram ao impacto, e faleceram na hora.”
Não. Não pode ser verdade. Se isso é algum tipo de trote, o feitor pagará muito, mas muito caro.
O estado da sua mãe era grave. Ela foi induzida à coma, e temos alguns aparelhos que estão ajudando-a a respirar.”
Desliguei o celular. Não. Não poderia ter acontecido. Como assim? Um dia eu estou dando um beijo na testa dela e saindo pela porta para ir para a escola, e no outro ela simplesmente está desabilitada, deitada numa cama com aparelhos ajudando-a respirar. Não. Está tudo muito errado.
As lágrimas já estavam derramando sobre meu rosto, borrando a maquiagem. Foda-se a maquiagem. Tirei os lindos saltos que peguei do armário dela e fui correndo escada à baixo. Peguei as chaves do meu carro e fui. Fui ao encontro quase inacreditável dela. Minha mãe, meio viva, meio morta. Não. Eu me recuso a acreditar. Saí porta a fora correndo com os pés afundando na neve da garagem. Não sentia frio, apenas um vazio enorme se alastrando em mim.
O hospital ficava a alguns quilômetros de onde eu morava – seis, no máximo – e o trânsito, felizmente, estava coperando com a minha pressa. Via pelo retrovisor meus olhos pretos, manchados pelo rímel. Meu nariz vermelho de tanto chorar.

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