Andei pelo corredor vazio com paredes
pintadas de verde-hospital e o piso preto e branco, a caminho do
armário. Nas paredes tinham algumas pinturas a base de óleo. Eu
sempre achei-as interessantes e expressivas, mas não sabia dizer o
que elas realmente transmitiam. Felicidade é que não era. A pessoa
das pinturas estava sempre cabisbaixa, mirando o chão. O pintor
resolveu usar muitos tons de azul. Tanto o azul-turquesa quanto
outros tipos de azul que não sei o nome. Ao lado de cada pilastra,
havia um vaso de gesso com uma pequena palmeira natural. Eu sempre
perguntava como elas conseguem ficar intactas mesmo sendo inverno.
Provavelmente, a escola contrata ótimo botânicos que sabem cuidar
das plantas.
Mamãe tem seu próprio jardim colonial
nos fundos da casa. Seu ex-namorado, John, construiu uma pequena
estufa de vidro para as flores mais delicadas. Naquela época, ela se
dedicava muito ao seu jardim e suas planta com nomes malucos, mas
agora nem tanto.
Muita coisa mudou desde quando eles se
separaram. Os olhos dela não são mais os mesmos, perderam o brilho
e o azul dele, virou cinza.
Tirei três livros da minha mochila, e
coloquei-os no armário. O barulho do metal no corredor vazio, soou
dez vezes mais alto do que de costume.
Já eram duas horas, e mamãe já devia
estar gritando meu nome, pensando que eu tinha chegado e não falado
oi para ela.
Somos cinco lá em casa. Mamãe,
conhecida também por Emma Eaton aos seus quarenta e sete
anos. Carlie Stewart, a minha meia-irmã mais nova de dois
anos e meio. Drake Eaton, meu irmão mais novo de nove anos. E
Jared Eaton, meu outro irmão mais novo de quinze anos. E eu,
Mariah Eaton, filha primogênita de dezoito anos.
Todos dizem que sou a cópia da mamãe
de quando ela tinha a minha idade, e vou confessar que se eu chegar
aos meus quarenta e sete e ser igual a ela, estarei satisfeita.
“Mariah! Espere!”
Virei o rosto assim que ouvi meu nome,
e lá estava ela. Sara Washington, a denominada minha melhor amiga.
Sara é uma das garotas mais populares no colégio, e até hoje não
sei por que ela anda com a estranha, eu. Sentamos sempre
juntas na hora do almoço, na única mesa de dois na cantina do
colégio. Lá, costumamos conversar sobre o que anda acontecendo nas
nossas vida, e é claro que ouvir sobre a vida de Sara é muito mais
interessante que a minha.
Ela sempre fala das festas que irá e
quem estará lá, e eu sempre respondo com hm ou
ok. Não que eu esteja
desinteressada no que ela fala, mas no fundo mesmo, eu tenho lá um
pouco de ciúmes.
Sara chega a ter um
metro de setenta, não sei exatamente, mas ela é um palmo maior que
eu. É magra, morena e tem olhos verdes. Diferente da sem sal aqui,
com um metro e sessenta, cabelos cacheados e olhos castanhos.
“Ah, oi Sara!”
respondi surpresa.
Meu carro não era
o único no estacionamento. Os carros dos professores ainda estavam
lá. Coitados, são os primeiros a chegar e os últimos a sair.
Ela andou depressa
com suas botas de couro afundando na neve.
“Oi” ela disse
quase sem ar. “E então, você tem planos para hoje de noite?”
“Não exatamente.
Eu estava pensando em começar com o trabalho de história para
segunda, e você?” falei normalmente, como se fosse novidade que eu
não teria nada legal para fazer sexta à noite.
“Bom, hoje tem a
festa do George no Bar do Stanley. Eu imagino que você queira vir
comigo.”
Essa é um tipo de
pergunta bem típica vindo da baladeira Sara Washington, e para
ressaltar, a resposta vindo da chata Mariah Eaton também era bem
típica e previsível.
“Olha, não vai
dar... você sabe... eu não sou muito fã de festas.” claro que eu
viria com essa, afinal essa é sempre a minha resposta.
“Ah não, Mariah.
Qual é? Deixa esse sua fachada de anti social para lá e vem curtir
a sexta-feira comigo hoje.” ela implorou como uma criança
implorando ao pai para comprar tal coisa.
Eu não vou mentir,
já faz meses que não vou à uma festa e adoraria ir para essa com a
minha dita melhor amiga.
“Você venceu
dessa vez.” disse revirando os olhos assistindo Sara dando pulinhos
de alegria e balançando seus cabelos longos e castanhos nu movimento
suavemente natural. Ela conseguia ser perfeita sem fazer muito
esforço.
“A festa começa
às nove. Espero que esteja pronta um pouco antes d'eu chegar na sua
casa. Você sabe que detesto esperar...”
“Sim sim, não se
preocupe senhorita pontual”
Vi o vulto dela
desaparecer entre o muro do colégio e abri a porta do Morti. Sim,
Morti é um carro. Tinha dezessete anos quando mamãe me deu de
presente, e desde então, passei a chamá-lo de Morti.
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