3.9.12

Meu livro; Intro parte 2

Andei pelo corredor vazio com paredes pintadas de verde-hospital e o piso preto e branco, a caminho do armário. Nas paredes tinham algumas pinturas a base de óleo. Eu sempre achei-as interessantes e expressivas, mas não sabia dizer o que elas realmente transmitiam. Felicidade é que não era. A pessoa das pinturas estava sempre cabisbaixa, mirando o chão. O pintor resolveu usar muitos tons de azul. Tanto o azul-turquesa quanto outros tipos de azul que não sei o nome. Ao lado de cada pilastra, havia um vaso de gesso com uma pequena palmeira natural. Eu sempre perguntava como elas conseguem ficar intactas mesmo sendo inverno. Provavelmente, a escola contrata ótimo botânicos que sabem cuidar das plantas.
Mamãe tem seu próprio jardim colonial nos fundos da casa. Seu ex-namorado, John, construiu uma pequena estufa de vidro para as flores mais delicadas. Naquela época, ela se dedicava muito ao seu jardim e suas planta com nomes malucos, mas agora nem tanto. 
Muita coisa mudou desde quando eles se separaram. Os olhos dela não são mais os mesmos, perderam o brilho e o azul dele, virou cinza.
Tirei três livros da minha mochila, e coloquei-os no armário. O barulho do metal no corredor vazio, soou dez vezes mais alto do que de costume.
Já eram duas horas, e mamãe já devia estar gritando meu nome, pensando que eu tinha chegado e não falado oi para ela.
Somos cinco lá em casa. Mamãe, conhecida também por Emma Eaton aos seus quarenta e sete anos. Carlie Stewart, a minha meia-irmã mais nova de dois anos e meio. Drake Eaton, meu irmão mais novo de nove anos. E Jared Eaton, meu outro irmão mais novo de quinze anos. E eu, Mariah Eaton, filha primogênita de dezoito anos.
Todos dizem que sou a cópia da mamãe de quando ela tinha a minha idade, e vou confessar que se eu chegar aos meus quarenta e sete e ser igual a ela, estarei satisfeita.
“Mariah! Espere!”
Virei o rosto assim que ouvi meu nome, e lá estava ela. Sara Washington, a denominada minha melhor amiga. Sara é uma das garotas mais populares no colégio, e até hoje não sei por que ela anda com a estranha, eu. Sentamos sempre juntas na hora do almoço, na única mesa de dois na cantina do colégio. Lá, costumamos conversar sobre o que anda acontecendo nas nossas vida, e é claro que ouvir sobre a vida de Sara é muito mais interessante que a minha.
Ela sempre fala das festas que irá e quem estará lá, e eu sempre respondo com hm ou ok. Não que eu esteja desinteressada no que ela fala, mas no fundo mesmo, eu tenho lá um pouco de ciúmes.
Sara chega a ter um metro de setenta, não sei exatamente, mas ela é um palmo maior que eu. É magra, morena e tem olhos verdes. Diferente da sem sal aqui, com um metro e sessenta, cabelos cacheados e olhos castanhos.
“Ah, oi Sara!” respondi surpresa.
Meu carro não era o único no estacionamento. Os carros dos professores ainda estavam lá. Coitados, são os primeiros a chegar e os últimos a sair.
Ela andou depressa com suas botas de couro afundando na neve.
“Oi” ela disse quase sem ar. “E então, você tem planos para hoje de noite?”
“Não exatamente. Eu estava pensando em começar com o trabalho de história para segunda, e você?” falei normalmente, como se fosse novidade que eu não teria nada legal para fazer sexta à noite.
“Bom, hoje tem a festa do George no Bar do Stanley. Eu imagino que você queira vir comigo.”
Essa é um tipo de pergunta bem típica vindo da baladeira Sara Washington, e para ressaltar, a resposta vindo da chata Mariah Eaton também era bem típica e previsível.
“Olha, não vai dar... você sabe... eu não sou muito fã de festas.” claro que eu viria com essa, afinal essa é sempre a minha resposta.
“Ah não, Mariah. Qual é? Deixa esse sua fachada de anti social para lá e vem curtir a sexta-feira comigo hoje.” ela implorou como uma criança implorando ao pai para comprar tal coisa.
Eu não vou mentir, já faz meses que não vou à uma festa e adoraria ir para essa com a minha dita melhor amiga.
“Você venceu dessa vez.” disse revirando os olhos assistindo Sara dando pulinhos de alegria e balançando seus cabelos longos e castanhos nu movimento suavemente natural. Ela conseguia ser perfeita sem fazer muito esforço.
“A festa começa às nove. Espero que esteja pronta um pouco antes d'eu chegar na sua casa. Você sabe que detesto esperar...”
“Sim sim, não se preocupe senhorita pontual”
Vi o vulto dela desaparecer entre o muro do colégio e abri a porta do Morti. Sim, Morti é um carro. Tinha dezessete anos quando mamãe me deu de presente, e desde então, passei a chamá-lo de Morti.

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