1 - continuação
Estava
com meu laptop no colo enquanto escrevia o trabalho de história
sobre a antiga tribo de índios americana. Eu precisava
desesperadamente dos dois pontos do trabalho, pois me dei mau no
último teste que tivemos.
Olhei
para o canto direito da tela onde mostrava as horas. Eram cinco pras
sete, e estranhei o fato de ninguém ter chegado em casa à essa
hora. Mamãe já devia ter chegado da reunião de pais com as
crianças, afinal não deveria levar muito tempo as dedurações
sobre o mal comportamento de Drake e o desleixamento de Jared.
Há
alguns anos atrás eu fiquei na paranóia de ter sido adotada. Eu
perguntava sempre pelos meus pais biológicos, até o dia que mamãe
se cansou e começou a chorar na minha frente. Desde então, eu parei
com as perguntas. Mas o motivo das perguntas era que eu sou
completamente diferente dos meus irmãos. Não tenho nenhuma
semelhança com nenhum deles, nem fisicamente, e muito menos
psicologicamente. Ter sido adotada era a explicação mais lógica
naquela época.
Calcei
minhas pantufas e desci as escadas cuidadosamente, os biscoitos
mergulhados no leite não conseguiram me manter cheia por muito
tempo. O primeiro andar parecia mais silencioso que antes, e então
fui checar o quarto dos meninos. Quem sabe eles chegaram e a música
alta do meu quarto me empediu de escutá-los.
Não,
eles ainda estavam fora. Comecei a ficar preocupada com a demora, mas
optei pelo meu lado mais conciente e otimista. Uma foto mental do
bilhete deixado por mamãe apareceu na minha cabeça, e lembrei que
logo após a reunião eles iriam ao boliche. Fiquei mais tranquila.
Desci a
escadaria com a mão deslizando em todo o corrimão e pulei os dois
últimos degraus, colidindo os pés com o chão.
Na
pequena estante da sala, podia ver uma luz vermelha piscante. Duas
ligações não atendidas mostrava o visor do telefone. Apertei
no primeiro botão à direita.
Sem mensagens.
Ótimo.
Duas pessoas ligaram e não deixaram recado se identificando, quem
poderia ser? Se fosse mamãe, teria deixado um recado de mais ou
menos um minuto se esclarecendo e perguntando se tudo estava bem.
Sara teria ligado para o meu celular ao invés do fixo.
Um
barulho vindo de não muito longe me intrigou. Era a minha barriga, e
sim, eu estava com fome. Fui para a geladeira com a foto mental do
bilhete escrito por mamãe na cabeça, e lembrei da parte da comida
que só precisva ser esquentada. Eu deveria esperar eles chegarem,
mas a minha barriga falou mais alto, literalmente.
Peguei a
pequena vasilha redonda com uma tampa verde e examinei mais de perto.
Parecia lasanha. Coloquei a vasilha dentro do microondas e apertei em
cinco minutos – o que devia ser o suficiente para esquentar um
pequeno pedaço de lasanha.
Abri as
gavetas procurando por um prato e talheres, enquanto cantava o refrão
de uma música que fiquei na cabeça. Os cinco minutos do microondas
pareciam uma eternidade. A cozinha minimalista da mamãe me deixava
tonta – tudo muito branco, tudo muito reto.
O
microondas parou e a lasanha estava pronta para ser servida, enquanto
eu sentava na ponta da mesa desnecessária de oito lugares. Uma mesa
tão grande para apenas cinco pessoas. Raramente recebíamos visitas
aqui em casa. Vez ou outra, os pais dos coleguinhas do Drake vinham
tomar um café, mas nunca passavam da sala de estar. Sara também
visitava, mas ficávamos no quarto o tempo inteiro e no fim do dia,
ela ia embora.
O
barulho dos talheres no prato redondo ecoavam na cozinha e ressaltava
o fato d'eu estar completamente sozinha em casa, numa noite fria de
inverno. Já estava começando a sentir falta dos meninos batendo a
porta de seus quartos e a Carlie chorando insatisfeita.
Chequei
o grande relógio de ponteiros na parede da cozinha, enquanto lavava
o prato e os talheres sujos. Ele marcava sete e quarenta. Com a minha
idade, não achava mais necessário pedir permissão de pais para ir
à uma festa, afinal mamãe confiava em mim – eu acho. Só deixaria
um pequeno bilhete avisando para onde eu fui, com quem eu fui e
quando mais ou menos chegarei.
Subi as
escadas pronta para tomar um banho de banheira bem quente e
merecido. Eu estava exausta por algum motivo, meus calcanhares
estavam latejando e a cabeça também. Devia estar presentável para
quando chegasse na festa. Sara iria ofuscar toda a minha dedicação
de me arrumar, como de costume.
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