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Era uma típica tarde de inverno em
Detroit, e eu não hexitaria em dizer que lá fora fazia uns dez
graus negativos.
“Mãe, cheguei!” gritei dos degraus
assim que bati a porta em um bum que provavelmente teria
acordado quem estava dormindo.
“Droga” murmurei baixinho quando a
alça da minha mochila enganchou-se no trinco da porta extensa de
madeira. Aquela porta dava duas de mim.
Rua Valey, número centro e trinta e
quatro. Minha casa. Quatro dormitórios, três banheiros, uma
sala de jantar e outra de televisão, escritório da mamãe, cozinha,
quintal e terraço. Uma típica casa dos moradores daquela rua.
Desci os degraus da hall examinando a
casa com olhos atentos. Nenhum barulho de panelas no fogão, nenhuma
criança esperneando no meio da sala e brigando pelo controle remoto
da televisão. Tudo muito quieto.
“Alguém em casa?” perguntei sem
obter nenhuma resposta, enquanto deixava a chave do meu carro sobre a
bancada da cozinha.
Passei pela sala e subi as escadas para
o primeiro andar. Os quartos estavam todos vazios, como se todos
tivessem simplesmente a abandonado e me deixado aqui sozinha. Essa
ideia me assustou.
Subi mais uma vez as escadas e fui para
o sótão, que eu ainda não tinha citado. Bom, eu durmo lá. Sótãos
costumam ter aquela imagem de lugar empoeirado, abrigador de ratos e
aranhas e com cheiro de mofo. Mas é o meu quarto, que por sorte eu
vi primeiro há dois anos atrás quando pomos o pé pela primeira
vez, onde agora chamamos de lar. Jared implicou comigo o verão
inteiro para trocarmos de quarto, mas não dei o braço à torcer.
Nunca dava.
Abri a porta do sótão, e em cima da
minha escrivaninha tinha um prato de porcelana com flores azuis
desenhadas em volta, repleto de biscoitos de canela e um copo de
leite ao lado. Peguei o prato e o copo e fui para cama, quando
percebi que algo tinha caído. Havia um bilhete embaixo do prato com
a caligrafia da mamãe:
Fui na reunião de
pais dos meninos, e prometi à eles que iríamos ao boliche
logo em seguida. Provavelmente não voltarei antes da
janta, mas tem comida na geladeira, só basta esquentar.
Mamãe.
Ainda
tinha uma leve camada de espuma nos cantos do copo, o que significava
que ela não tinha saído há muito tempo. Provavelmente, às seis da
tarde todos estariam de volta.
Tirei o
jeans apertado e o tênis, me deixando o mais confortável possível
e deitei na cama. Estiquei o braço em direção ao meu iPhone que
estava no criado-mudo. Abri o ícone de músicas e pus no modo
aleatório, aumentando o som no máximo. Era por isso que adorava
ficar só em casa, e talvez por isso o motivo da minha mãe temer que
eu ficasse sozinha aqui por muito tempo.
Desde
criança, comia biscoitos mergulhados no leite. Simplesmente um vício
de infância. Mergulhei um dos biscoitos no leite pela metade, e
dirigi-o até a minha boca. Mastiguei mirando a rua da janela.
Enquanto mastigava, percebi que um chocolate quente cairia melhor em
relação ao frio que fazia do outro lado do vidro.
Tudo
simplesmente tão calmo e calado. Os galhos nus das árvores se
mexiam de acordo com a intensidade do vento, os jardins assimétricos
da vizinhança cobertos por neve. Um cachorro latia. Silêncio.
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