29.9.12

Claudia Calado II

 Novo quadro! Diferentemente do Nostalgia e Na minha mente, onde são postados somente textos de nossa autoria, o Escrituras trará textos feitos por terceiros.
Durante esses segundos nunca calculados, noto que meu mundo, o mais profundo que em mim há, não cabe nas notas da clave de sol ou no risco que conduz a caneta sobre o papel. Expressões não são nada, objetos muito menos, do lado de dentro tudo é muito mais intenso e eis que então a arte me parece inalcançável. O que me une a mim? Ao meu violino e aos meus cadernos borrados, rasgados, amassados, quase-pulsantes? O que prega minha alma à carne, a carne ao espírito e o espírito à poesia? O despertar verdadeiro ocorre em rimas que nunca foram pronunciadas e que nunca serão, em desenhos que não foram manchados de aquarela, em um canto que jamais será entoado. Ninguém me olha nos olhos porque tenho olheiras absurdas, ninguém mira, atira e acerta, ninguém, ninguém… O que tenho de belo não é isto, não é o visto. É um sentimento à parte, porém presente em tudo o que faço, é o sopro do grito silenciado no travesseiro, ou na mudez da literatura, ou no declamar que nunca chega, ou no amor que está a quatro dias de distância. É a intensidade que um ser sensível sente, mas quem mais sente a sensibilidade de tal criatura? Sensíveis com seus sensíveis, anestesiados com seus anestesiados, cegos com seus cegos e todo esse apartheid emocional. É isto? O invisível é tudo o que escapa - mas o que escapa não está presente em sua ausência? O brado não está presente no vazio? O branco camuflado presente sob a tela preta? A ressaca do oceano presente na maré baixa? O baque do corpo presente em seu declínio abismático? No que falta, no que falta, meu bem… Eu sou uma lacuna ocupante, mas nunca ocupada, uma arte não descrita, uma frase não escrita, uma nota que foge à partitura, um solo fantasiado em mente, um descanso que jamais chega e um ser holístico multiplicado no complexo humano.Eu sou uma lacuna ocupante, mas nunca ocupada, uma arte não descrita, uma frase não escrita, uma nota que foge à partitura, um solo fantasiado em mente, um descanso que jamais chega e um ser holístico multiplicado no complexo humano.
Claudia Calado

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