Lá estava ela sentada na mesa de sempre, com o café de sempre e o olhar vago pra janela. Estava mais bonita do que eu lembrava e, talvez, ainda não fosse o máximo que conseguisse.
Contraiu os lábios e tomou um gole da bebida. Sim, senhoras e senhores, lhes apresento a história da ex-namorada.
Bonita, tímida e comportada, foi assim que a taxei no primeiro instante em que a vi, nessa mesma mesa em que ela se encontra agora.
Não estava tão bonita quanto hoje, mas estava adorável com aquele seu vestido rosa que não marcava nenhuma das curvas do seu corpo e o cardigã azul que a cobria ainda mais. Olhou pra porta que acabará de bater e sorriu pro garoto de cabelos cacheados que se desculpava com as pessoas que faziam cara feia enquanto ele passava.
Ele sentou ao seu lado e observou a maneira como ela colocava o cabelo por de trás da orelha e como seus olhos se reviravam toda vez que o garçom passava por ela e fazia uma gracinha. Ela sussurrou baixo pra ele: aquele garoto é o máximo. E eu congelei com esse comentário.
Como podia a garota que eu gostava de admirar também ter reparado em mim e eu nunca ter notado? Ela abriu a mochila e tirou uma folha, mas precisamente, era uma de suas histórias e entregou a ele. Ele leu e ela aguardou ansiosa algum comentário.
Seus olhos brilhavam mais que nunca e seu sorriso aparecia gradativamente a cada linha que ele finalizava e gesticulava algo pra ela, como se conversassem daquela maneira.
Ele terminou e colocou o papel em cima dessa mesma mesa em que agora ela se senta todos os dias, com a mesma bolsa e sua caneta esferográfica preferida e traça algumas linhas, e disse: ainda falta emoção.
E todos os dias assim eram repetidos. Ela escrevia algo, ele lia e ela deixava o papel em cima daquela mesa pra ser jogado fora, e eu, ingenuo, guardava todos pra quando chegasse em casa lesse-os.
Um dia tomei coragem e falei com ela. Convidei-a para ir ao cinema assistir aquele filme que parecia não querer sair de cartaz e quando ele terminou, ela sussurrou baixinho pra mim: eu já tinha assistido a esse filme.
Como andávamos a pé e ela parecia não se importar de não ter companhia ao ir pra casa, pedi que esperasse e fui até meu quarto pegar os papéis e a entreguei todos eles. Ela me agradeceu com um sorriso e os pegou.
Nunca mais saímos juntos. Parece que ela desenvolve melhor quando escreve sobre suas ilusões de um amor que poderia ter vindo, mas virou escrita.
Rafaela Faria
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