7.3.14

Decoros de uma canção antiga





















Máquinas de escrever e de costura, toca discos, sapatilhas de ballet, vestidos com a saia rodada, calça jeans escura, batom vermelho, rímel preto, cantar no banho, silêncio no quarto, barulho na cabeça, sonhos em mente e fiel as próprias crenças. Beijos demorados, abraços apertados, lanches compartilhados, música de fundo, bebês em carrinhos, colo e carinho. Flores de maio. Viver ao natural, admirar sem pagar pau, existir e ser feliz, amar e deixar ir. Canções de ninar, céu com luar, gatos se espreguiçando e cheiro de menta no ar. Esquema de conhecer o mundo, mas com a casa de mamãe pra voltar. Laços de fita, pão sem manteiga, nó na barriga que sobe pra garganta. Amar devagarinho, nostalgia à caminho e lenços de papel no vasinho. Chorar até desidratar, sorrir sem ter que parar. Vem juntinho, lado a lado, braço dado, sem nunca soltar. Saudade do menino da porteira pensando na menina passageira que talvez nem vai voltar. Está correndo o mundo tentando encontrar, aquele calor no peito, que só do seu lado vai encontrar. Ficar de bobeira na rede sem precisar levantar. Sobra e água fresca com alguém pra namorar. Viver em conflito, mas na guerra da paz. Morrer do seu ladinho, pra não viver pedindo mais. Ah, a lembrança da menina com quem ele devia estar. Ficar rebobinando a fita até ela chegar. Sozinha e acuada, as mãos coladas uma na outra, sorriso disfarçado, rosto mascarado, olhar implorando pra ter onde ficar. Então ela entra sem que abram as portas, porque no seu coração é onde deve estar. Em estado de graça, mil razões pra comemorar.
Rafaela Faria

Nenhum comentário:

Postar um comentário