25.6.12

Como vidro e papel

Mesmo sem ter medo, eu não disse "sim". Não estava ali pra ser protegida, mas ele me envolveu em seus braços e me fez esquecer que existia tudo, até mesmo o espaço entre as nossas bocas e me entreguei a um beijo que por alguns segundos não teve fim. Pior, eu fui me apaixonando a cada toque, me entregando ao desejo. Você foi ficando cada vez mais profundo dentro de mim, e mesmo que eu tentasse mergulhar pra te trazer pra borda e lhe expulsar, eu não conseguia. Você ia entrando e eu ia ficando mais louca, mais pervertida, mais sincera e mais solta. Uma mistura de prazer e confusão mental que só você me proporcionava.
Ah amor, prefiro-te assim. Sem nada, sem mim; porque você sabe que mesmo sem mim, você está comigo. Nós dois o tempo todo, nossas bocas juntas e nossos corpos quentes em um abraço. Ah amor, não desgrude. Assim está tão bom, tão profundo e intenso que eu nunca abandonaria isso ao léu, do nada.
Eu deixei que a dor de amar entrasse. Eu permiti que ela fizesse todos os estragos que uma garota apaixonada deixa quando acha que o seu amor é o príncipe encantado, mas o pior de tudo era que você se comportava como tal. Brincava de cavalheiro e enfrentava dragões, então acreditei que me salvaria de mim. Que enfrentaria o meu mundo imaginário e me traria pra fora. Não fez tal coisa. Beijou-me como um príncipe beija sua princesa e foi embora. Armou a montaria, subiu no cavalo e foi embora.
Desmontei, desarmei-me e chorei na calçada. Subi a minha torre até o andar mais alto, da torre mais alta e esperei na varanda por dias. Vi as estações mudarem de verão para outono, de outono para inverno e do inverno para a doce primavera. Vi as flores brotarem e os casais passarem pelas calçadas apaixonados. Vi beijos e abraços de amantes correspondidos e decidi não lhe esperar voltar.
Desci da torre e cortei a barra do meu vestido. Andei em direção a floresta e vi que mil e uma coisas aconteciam lá dentro, até mesmo o amor. O amor mais puro e sincero, tão descomprometido quando as flores da estação. Deitei-me na grama e tive mais um de meus delírios românticos que ele voltaria. Seguraria sua espada no alto e ela brilharia quando o sol batesse, estenderia sua mão pra mim e eu a agarraria. Ele me colocaria em seu cavalo, trocaríamos juras de amor e voltaríamos ao meu castelo encantado e imaginário.
Ah amor, eu tentei olhar pra trás e ir de volta ao meu castelo, mas não aguentei toda a pressão de esperar o dia em que você viria novamente. Perdoa os fios de cabelo no chão do banheiro, eu os cortei pra tentar mudar. Se conseguir, perdoa as suas roupas que estão naquela mala no fim da calçada. E se ainda puder perdoar mais uma coisa, perdoa eu ter fugido de você. Eu precisava me afastar, ficar longe até saber se aquilo tudo era o que eu queria. Mas ainda não encontrei respostas, então não voltarei tão cedo. Aproveite enquanto eu estou fazendo um retiro pra pensar, se lembrando das coisas que me fez passar. Das noites em claro que eu passei em frente a janela. Sonhando, esperando, desejando e pedindo pra não te perder, pra você me esquecer.
Meu príncipe de papel, sou uma princesa que se ausentou de suas tarefas. Como a de te amar, esperar-lhe o quanto custe. Amor de papel, lembre-se que meu coração era saudável e você o fez de vidro. Você o quebrou e pra chegar até mim, precisa cruzar o caminho dos cacos de vidro. Uma tarefa difícil pra um príncipe rasgado, mas se chegar até mim, eu te prometo que colaremos os nossos pedaços novamente e ficaremos juntos por uma eternidade de poucas semanas.
Rafaela Faria

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