12.2.13

Ticket de embarque

Hoje eu estava observando minha mãe escolher seu sachê de sopa no supermercado e foi um dos fatores que me fez pensar de novo em você. A maneira como demorava horas pra escolher uma alternativa em um teste, um DVD na locadora, um livro em uma livraria...
Você passava muito tempo fazendo suas escolhas, lia sobre o que falava. Mastigava a informação, processava e então fazia a sua escolha, que na maioria das vezes era a certa.
Eu nunca tive muita paciência pra isso, sempre usei muita a minha sorte. A desgastei demais e minhas escolhas começaram a me destruir, me desconstruir e eu não era mais eu.
Eu, que você passou muito tempo tentando entender, já não era mais a mesma. Eu não cresci, regredi. Você percebeu, tentou entender de novo o que vinha de mim, mas já não era o bastante. Seu amor já não mais me satisfazia, mas eu ainda o queria. Queria mudar o que estava sentindo... Toda a confusão mental, toda a bagunça espiritual... Mas tinha que fazê-lo sozinha, maneira só minha.
Quando eu estava a um passo de me reconstruir, levantar mais uma vez meu edifício, eu desmoronei novamente. Meu edifício estava sendo construído a beira da praia, a base de mentiras. Não suas, mas de um alguém em quem eu não deveria ter depositado tanta confiança quanto eu fi-lo.
Agora eu estou aqui sentada em frente ao computador, querendo arrumar um meio de limpar a sujeira que uma outra pessoa fez em nosso caminho. Estou com o espanador e a vassoura em mãos, mas só pertence a você a chave do portão.
Aquele que você fechou quando nosso caminho entortou, nossa estrada ficou esburacada e nossos corações se despedaçaram. Se despedaçaram e se reconstruíram de maneira errada.
Enquanto você se fechou pro mundo, eu abri o meu pra inúmeras experiências e me quebrei em todas elas.
Eu cresci tanto, evoluí tanto e ainda sei que farei isso em todos os caminhos que cruzar nessa grande jornada que se chama de vida. E você, meu passarinho, você continuou a criança de sempre.
Você se retirou do mundo, pegou seu ticket de embarque e rasgou em duas partes. Só que isso não é o bastante pro destino desistir de você ou eu deixar de lhe amar tanto quanto fiz e faço todos os dias.
As coisas da vida nunca acabam, nunca cessam, nunca desligam. Quer dizer, não fazem isso quando ambas as partes continuam conectadas. Porque o destino enxerga as conexões onde todos pensam que só havia pó. E poeira, amor, acumula em lugares onde ninguém pensaria em limpar.
Assim como nosso amor, ele se acumula em lugares que as pessoas não pensariam em procurar.
Rafaela Faria

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