Acho que poderia ser definido assim: você parou em frente a faixa de pedestre e viu que o sinal estava verde e olhou pro outro lado, onde você deveria estar. Ou melhor, onde eu não deveria estar.
Você continuou olhando, e eu, por infeliz coincidência do destino, olhei de volta e desviei logo em seguida. E então, num súbito surto de coragem, pousei meu olhar no seu. Que pedia pra encontrar de novo, depois de tantos anos, com os meus.
"Corajoso", pensei quando vi que estava atravessando a rua. Você, que quase foi atropelado tantas vezes quando queria chegar logo ao meu portão, para, então, acariciar meu rosto e, como alguém que rouba uma fruta madura, beijar meus lábios que viviam sedentos dos teus.
Depois do nosso trágico "adeus" e das promessas de não chorarmos em prol dos bons momentos, aqueles que passávamos o domingo sorrindo e o sol irradiava os nossos rostos. Nunca mais havíamos nos falado, nem um simples e-mail ou uma ligação no meio das frias madrugadas de agosto.
Nossos olhos, ainda brilhando tanto quanto da última vez que nos vimos, se cumprimentaram. Celebraram o que ainda estava vivo dentro de nós. Os seus lábios já estavam secos e, sem terem que se contrair, imploraram um beijo.
O beijo que tanto esperei, o beijo que iniciava o segundo tempo, a segunda chance. O fato de ainda termos e acreditarmos no nosso amor, aquele que nunca havia adormecido, aquele qual os nossos corações seguiam o mesmo ritmo e esse embalava os sonhos de terça-feira.
Você atravessou, estávamos finalmente frente a frente depois de tantos anos, que mais pareciam séculos. Você sorriu e eu retribui, então você virou o rosto e seguiu o seu caminho. Aquele qual eu costumava chamar de "estrada de ouro", como no filme o mágico de OZ.
Não, eu não cheguei a Cidade das Esmeraldas. Eu ainda posso estar muito longe, posso estar perto... A única certeza que tenho é de que um dia ela vai me levar pra casa, onde você vai estar me esperando chegar da escola com seus lábios.
Tem certeza de que não quer voltar e beijar meus lábios? Vai nos deixar sem uma segunda chance e fazer o nosso amor morrer como todos os que estão se acabando no mundo? Seremos pra sempre "meios corações"?
Tudo bem, pode ir. Eu te vejo seguir o seu caminho daqui, espero o sinal fechar mais uma vez e cruzo o meu caminho, a minha estrada. Só que é inevitável não sussurrar "eu te amo".
Rafaela Faria
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