Ele tinha cheiro de alguma coisa gostosa e loção pós-barba, adorava biscoito e ouvia rock.
As manias dele eram bem diferentes das minhas e os amigos dele, de mim, só gostavam de longe. Eu era o sonho que ficou no passado e ele o futuro perdido no presente. O futuro do passado presente e mais alguma barba por aí.
Ele não tinha hora pra parar e tinha nascido sem saber o que significava a palavra. Eu adorava seu jeito brincalhão, mas não gostava das suas brincadeiras. Não era certinha, ele que era chatinho. Ele se apaixonou, eu não.
Eu era a chata, ele o idiota. Fazíamos tudo desde que não fosse juntos. Eu era a opção perfeita, ele o aquela alternativa "c" da prova de química que eu tinha quase certeza de que era "a", mas escolhi mesmo assim "c". Ele era o meu "c", aquela coisa vermelha que te prende e não te deixa escapar até que supere.
Eu reprovei em química. Também reprovei no amor.Mudei de escola. Conheci um cara com covinhas e olhos claros que era ótimo em química e que gostava de ficar sentado nos domingos sem fazer nada, só observando a vida passar. A vida dele passava, minhas notas caíam e a alternativa "c" ainda me perturbava.
Minhas notas continuaram caindo até o dia que chorei e ele perguntou o que eu tinha. Vomitei todo o passado, ele me deu um beijo abafado. Beijei de volta, ele colocou a mão em minha cintura e a alternativa "c" assistia tudo de camarote, do portão da escola.
Nunca mais tirei uma nota baixa em química, nunca mais vi a alternativa incorreta e a vida dele nunca mais passou pelos olhos durante os dias de domingo. Eu fui os domingos, ele a alternativa "a" em química e o cara que era a alternativa incorreta deve estar por aí. Ainda sendo a alternativa incorreta, ainda sendo a razão de alguém reprovar em duas matérias que não são nenhum pouco parecidas.
Deve estar por aí roubando um coração e sofrendo se a outra pessoa não o corresponder. Pobre alternativa incorreta, pobre garota que um dia marcou a alternativa incorreta. Sorte dela que pra tudo nessa vida existem dois caminhos. Ela podia continuar errando, mas escolheu acertar.
Rafaela Faria
Nenhum comentário:
Postar um comentário