7.1.15

Epicentro

  Shakespeare uma vez escreveu que o amor é cego. Pra desespero geral, ele estava enganado. Estar apaixonado é estar cego. Essa cegueira vem de uma devoção absoluta que cada átomo do seu corpo lhe faz acreditar que, mesmo não parecendo muito gratificante, se humilhar é a única saída pra conseguir a completa satisfação emocional. Sinto que vou perder algumas borboletas enquanto escrevo isso, mas não há problemas. Ele vai plantar futuras borboletas em mim quando perceber que eu preferi assim.
  Ninguém está procurando por amor quando realmente o encontra. E, falando sério, quem quer premeditar romance? Eu sou do tipo dos que votam a favor de poder premeditar. Porque quem adivinha o que vai acontecer, evita. Só que a vida, conhecendo coração em coração, curte brincar de quando é a hora e quando não. Às vezes você cruza olhares em uma esquina qualquer e clicks acontecem. O destino escolhe quem some e quem permanece.
  Desculpe por fugir ao assunto. Se eu não estiver enganada, falávamos de borboletas. Minhas borboletas. Coloridas ou pretas, ainda assim são borboletas.
  Amor é como uma borboleta, se for permitida a comparação e se ela lhe convir em vias de padrão. Borboletas não viram o que são de um dia pra outro. Primeiro lagartas, depois casulos para então vir a ser o que é desejado.
  Amor envolve cuidados, atenção e carícias. Amor certas horas é assustador por ser transformador. Não tem como você se bater com uma pessoa e ela simplesmente não tocar sua vida de alguma forma, principalmente esse sentimento que qualquer olhar pode mudar certezas. 
  Eu era uma lagarta. Ele era uma lagarta. A vida era outono quando nos conhecemos. Nada era de verdade, nada era realidade. Duas lagartas andando largadas por aí, cruzando esquinas, parando pra olhar os carros nas avenidas. Observando cores, fantasiando dores. Fingindo saber de tudo e balbuciando teorias pré-concebidas sobre sentir. Ele não sente, eu não me apaixono.
  Então a vida virou inverno. Um eterno correr pra esquecer, fingir que não senti. É a fase mais sensível e menos carismática do amor. Aquela que a única saída é tirar a outra pessoa da sua vida. Brincar de esconde-esconde, não reconhecer. Pra no fim de tudo o que havia de incerto ser evaporado pelo sol.
  Começa a primavera. E se antes você tentava se convencer de que o outro nunca poderia ser seu par, você só consegue o enxergar. Não como o único no mundo, mas como o único com quem você quer estar quando a vida perguntar o que você quer fazer e qual o seu lugar.
  Uma teoria antiga diz que só estamos perdidos no mundo até encontrarmos alguém com quem dividir e compartilhar a vida. E é certo que quando a encontramos, nossas barreiras caem. Os muros se rompem. Não viramos o melhor que podemos ser, mas é encontrado em nós a capacidade de ser o que pretendíamos nos tornar.
  As estações vem e vão, mas o amor não. Primavera permanece e as flores não param de desabrochar pra que as borboletas, que um dia foram lagartas, possam circular livremente de flor em flor. Nos abrindo pro mundo, despertando as canções que ficavam escondidas no mais profundo da alma.
Rafaela Faria

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