Ninguém consegue me fazer escrever se eu não me sentir decepcionada, ou pelo menos era isso que eu achava que eu sabia de mim. Desde que você veio pra cá, meu mundo, tudo ficou um pouco diferente do que eu estava acostumada. As ilustrações e gravuras, poetas e romancistas não pareceram tão bons quanto a razão de minha inspiração desde então.
Eu também achei que gostasse de olhos grandes e tristes, mas os seus são pequenos e sorridentes. Parece que o sol nasce em seus olhos e se põe nos meus, você é o início da linha e eu estou no final dela. Não sou sua pequena, não sou nada sua. Não que eu saiba, não que eu queira ou que eu tenha comentado com alguém. Não gosto de declarar meu amor publicamente, sou daquelas que nega até morrer porque o passado a condena e tem medo de pular nessa abismo e depois se arrepender. Só que você existe. Você existe. Existe.
Você vem de onde vem tudo que me acalma. Pula as ondas do meu mar tempestivo, mergulha de cabeça no meu oceano. Você não finge, você é. Mesmo com o seu sorriso indeciso e decidido, sendo o que se deve ser. Sendo a confusão razoavelmente sensata da minha solidão. Você não vem de onde eu venho, você não é o que eu sou. Talvez seja um material especial, limitado e fora de estoque. Seja mais um daqueles semi-deuses quais eu não venero e não me entrego de joelhos à beijar os pés, mas é uma figura de devoção.
Não existe nada mais bonito que as suas mãos, não há melhor lugar que seus braços. Não existe vida em mim sem os nossos laços, segredos, mistérios, brigas e embaraços. Você sabe que meu coração não é vilão, mas também sabe que nessa corda bamba ele lhe faz andar no meio-fio. Um meio-fio que vem se engrossando pra virar calçada, uma estrada. Você cria um caminho em mim onde não existia nada. Você não é exatamente a flecha do cupido, você não precisa ser ela. Não enquanto arrumar um meio de falar comigo mesmo quando não tiver tempo pra nada, não enquanto sua respiração é calma e quente, não enquanto seu coração pulsa e não faz o meu sentir repulsa.
Não nasci pra ser o par de ninguém, não nasci pra ser de ninguém. Eu não pertenço a ninguém, não crio laços que as pessoas gostam de dizer que vem do além, de uma vida que ninguém pode comprovar se a gente tem ou se não tem.
Meu tempo não é seu, mas quero gastar meus minutos com você. Minha vida não é sua, mas passaria ela do seu lado. Eu sou covarde, mas por você seria valente. Eu era alguém que fingia que sente, agora sou a pessoa que sente e mente. Alguém que não sabe traduzir o que realmente tenta quando revela o que sente, mas tem vontade de finalmente se render a um pra sempre. Sem mudar, mas sem ficar só. Sem ceder, mas sem perder você.
No final, eu vou aprender a viver de você e mim. No final, eu vou conseguir sim. De um jeito ou de outro, você já fez o que alguém nunca conseguiria fazer em mim. Tocar sem encostar, fazer sem forçar, dizer sem falar.
Rafaela Faria
Nenhum comentário:
Postar um comentário