18.12.13

Universo na garganta, entalada até as tampas


Eu não sou nada e nem ninguém na vida de alguém. Eu só apareço e gradualmente vou desaparecendo. Não sou nenhum efeito especial ou elemento surpresa, muito menos um plano ou uma estratégia. Eu sou um personagem de fundo, um vácuo que nunca é preenchido. Um nada que está em busca de algo, só que por mais que procure, não o encontra. E mesmo procurando e colocando peças no lugar, ainda assim não completa e não satisfaz.
Bato portas, estou procurando um começo ou um final. Talvez eu só esteja na busca de um minuto da atenção de uma pessoa, de um lugar que somente eu vou conhecer. Procurando no passado errado, na vida errada. Vasculhando os fundos de caixas das mentes alheias pra compensar a minha falta de maturidade, ou meu excesso de fantasia.
Imagine que a vida seja um bosque e você está parado em frente a uma árvore alta e larga. Ela empata sua visão, tanto pros lados como pra frente. Contorná-la seria cansativo e pular por cima dela é impossível. Fazer um buraco no meio dela? Inconcebível. Degradar a mãe natureza seria como degradar suas origens.
Por mais que você pense, sua mente não processa algo produtivo o suficiente e você já precisa de água e descanso. Você dá dois passos e vê um caminho de pedras brancas, talvez que não leve a lugar nenhum. É tudo ou nada, arriscar ou perder. Alguns sabem conviver com a derrota, outros nunca vão aceitá-la direito. Mas é como dizem, se você estiver certo, leva tudo. Se estiver errado, é condenado. Não só condenado a ter que recomeçar, mas condenado pelos que estão ao seu redor. Aqueles que você ama e amou lhe apontando dedos, aqueles que você despreza abrindo sorrisos.
Recomeçar é a única solução, independente o problema; e olhe que qualquer problema é um recomeço. Não absoluto, você não tem que se mudar pra China porque perdeu uma caneta no trabalho. Você recomeça sabendo que vai precisar aprender alguma coisa, desde a mais simples a mais extrema.
Você envelhece e mesmo assim não encontrou o que está procurando. Velhice nos deixa cansados, sabemos que vão ocupar nosso lugar facilmente, que logo você não vai passar de mais um rosto num retrato antigo e aquele seu cheiro de roupa lavada com alvejante de primeira vai sumir da mente das pessoas. Ainda que não seja rápido, somos condenados ao esquecimento.
Velhos percebemos que nem sempre tivemos alguém pra confiar, alguém em quem se apoiar. Precisamos uns dos outros, mas prezamos a individualidade. Onde estamos? Pra onde vamos? Isso realmente ainda interessa? Você realmente liga se pra o lugar onde você vai se chama paraíso ou inferno?
Aqui é seu paraíso e aqui é o seu inferno. A vida é feita de luz e trevas as quais nunca saberemos combater. Ceder aos nossos instintos é indiscutível. Somos pequenos quando comparados aos nossos sonhos, mas somos grandes comparados as nossas derrotas? Quem lembrará de nossas lutas quando os pássaros não mais cantarem e as árvores não balançarem seus galhos quando o vento bater nelas? Em quem iremos confiar quando subirmos ou descermos? Existe alguém que, possivelmente, está nos assistindo? O quão interessantes somos pra que tanta atenção nos seja concebida?
Os dias correm enquanto sonhamos e rastejam enquanto lutamos. Uma luz no fim do túnel, uma ponta de azul no céu. Quem eu sou e o que quero, que se passou na minha cabeça de adolescente, já não vale o que eu virei. Se sou mais ou menos do que eu pensei, não importa tanto. Importa como vivi, se eu aproveitei ao máximo o que poderia vir a extrair da vida. Eu não me coloquei no lugar de ninguém, mas sempre quis que se sentissem no meu. Se fui justa ou não, só um ser perfeito poderá me julgar. E se algum dia eu me senti completa, que eu possa reviver pra redescobrir a sensação. O agrado que seja e de onde venha, que seja como brisa quente no inverno e que enxugue as lágrimas pesadas que meus olhos cansados carregam a muito tempo. Tire o peso do mundo que venho carregando sobre as minhas costas, que me apresente o caleidoscópio ao qual pertenço. Me mostre e ensine a ser a cor do arco-íris a qual fui destinada. E que se eu sou uma nota musical, que não mais desafine. Caso seja uma porta, não torne a ranger jamais. E, meus minutos perdidos, sejam revertido a horas de alegria.
Rafaela Faria

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